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O vento sopra onde quer

“O vento sopra onde quer. Ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai” – Não encontro uma descrição mais acurada acerca das manifestações das quais somos participantes e protagonistas.

Já é relativamente longa a caminhada daqueles que têm se envolvido no movimento de combate à corrupção no País, por meio do controle social municipal – um pouco mais de dez anos. Nesse tempo, vimos a militância se espalhando pelo interior do País, em cidades de pequeno porte, e em algumas de médio porte. Além da Rede Amarribo, que congrega mais de 250 ONGs municipais de controle social, surgiram outras duas redes cuja atuação se relaciona com aquela própria da Amarribo – a das cidades sustentáveis e a dos observatórios sociais.

Fora do âmbito dessa rede, mas em diálogo com ela, diversas outras entidades vêm realizando projetos consistentes, como o Instituto Ethos, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e o Instituto de Fiscalização e Controle.

A despeito de anos de militância, que incluiu no histórico de atividade dessas entidades diversas manifestações de rua, nunca houve apoio significativo “das ruas” a tais iniciativas. De repente, no entanto, as pesquisas mostram que o principal ponto de insatisfação dos manifestantes que hoje ocupam as ruas do País é justamente a corrupção.

Os cientistas políticos e historiadores já têm tentado entender o que aconteceu, o que está acontecendo, com diversas análises já postadas, todas carecendo do necessário distanciamento para que seja possível uma compreensão mais consistente deste fenômeno social pelo qual passa o País.

Anos atrás, creio que cairia na mesma armadilha que grande parte dos jornalistas, dos políticos e mesmo dos ativistas estão caindo: a angustiante necessidade de compreender a origem do movimento e de direcionar sua continuidade. Creio que estou livre desses dois perigos. Por algum motivo que talvez nem saiba explicar, de alguma forma essas questões não são caras para mim. Não me alinho com o grupo que bate na tecla de que é necessário ter foco (será mesmo?), e não tento entender de onde veio isso tudo.

Assim como estávamos de prontidão quando o vento soprou, na cotidiana luta contra a corrupção, e, por isso, já preparados e organizados para potencializar nossos esforços, assim continuaremos na mesma caminhada, quando o vento parar de soprar – se é que já não parou. Prefiro mil vezes as ruas cheias a voltar às manifestações de 2007, quando eu, minha esposa, minhas filhas e alguns amigos íamos protestar contra Renan Calheiros na praça dos Três Poderes em número não maior do que 20 pessoas. No entanto, nada vai mudar em nossa disposição de continuar combatendo esse combate.

Em determinado momento o vento, que sopra onde quer, soprou por aqui em nosso país. No entanto, não sabemos de onde veio, nem para onde vai. O que nos cabe é manter o compromisso na nossa luta contra a injustiça. Se o vento se for para outro lugar, continuaremos na mesma caminhada.  Se o vento continuar a soprar, melhor será.

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