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A mão visível de Dilma

Na marra: foi assim que os juros caíram.

O saudoso José Alencar passou anos e anos atacando a equipe econômica do Governo, pela incapacidade de que ela baixasse os juros. Pergunto-me se agora ele estaria feliz com as medidas tomadas por Dilma para baixar os juros – tenho dúvidas a esse respeito. Basta ver que a poderosíssima Fiesp não se manifestou sobre a recente baixa de juros promovida pelos bancos oficiais, que provocou resposta imediata em bancos privados. Havia feito um comentário inútil apenas em relação à baixa da Selic, dizendo que era bem-vinda mas tardia…

A mídia de orientação econômica neoliberal (todos os grandes veículos) também bastiões da defesa das “taxas de juros de primeiro mundo” pouco comentaram o feito. Veja, um pouco mais dedicada ao tema, fez críticas quanto a um suposto populismo no discurso de Dilma contra os bancos privados, à la Cristina Kirchner. Os colunistas de esquerda – meu alvo preferencial – pouco se manifestaram. Nassif deu pouca relevância ao tema. Paulo Henrique Amorim explorou a ideia de que a Globo detesta a baixa de juros, sem analisar a questão, criando mais um contraponto àquela TV – que é seu alvo preferencial, prática que norteia seu jornalismo.

As centrais sindicais, no dia primeiro de maio, cobraram uma redução mais forte das taxas de juros, seja lá o que eles intentam com essa demanda não explicada.

Era de se esperar um festival de vozes de apoio à empreitada da presidenta, da esquerda à direita, passando por todos estes setores acima mencionados. Ninguém saiu em defesa dela!

Resta comentar a classe política, notadamente os parlamentares. A maior parte deles não entende da questão, e não se interessa por ela. E, no momento, estão preocupados em se defender ou acusar no caso Cachoeira/Delta.

Não sei se tivemos alguma notícia melhor no cenário nacional nos últimos anos: às sucessivas quedas da Selic seguiu-se a queda das taxas de juros bancárias. Não se trata do paraíso que seria uma brutal queda na taxa de homicídios e a otimização da Estratégia Saúde da Família, mas é uma vitória espetacular num país como o nosso, no qual a taxa de juros atua como elemento de aprofundamento de desigualdades, por ser o mais voraz instrumento de concentração de renda.

A reação da Fiesp sinaliza que o problema para ela, de fato, não era ter acesso a taxas mais baixas – o que os grandes empresários conseguiam tanto dentro como fora do país – mas ver o setor financeiro ganhar mais do que o setor produtivo. A grande mídia tem enorme dificuldade em aplaudir a Presidenta, e concentra ainda alguns puristas neoliberais que queriam ver as taxas de juros cobradas pelos bancos caírem por força da mão invisível do mercado – como se isso ainda fizesse sentido depois das intervenções que os Estados fizeram na economia para salvar o mundo da hecatombe da crise provocada pelas bolhas imobiliárias. A pequena mídia de esquerda manteve sua linha, ou seja, apenas reagiu à grande mídia de direita – como os grandes veículos falaram pouco do tema, não havia muito o que comentar. E os sindicatos demonstraram que o sindicalismo brasileiro está sem rumo. Na falta de qualquer coisa sensata para reivindicar, fizeram uma reivindicação retroativa – pediram o acontecido. Parlamentares, de quem não se espera nada mesmo, cumpriram seu papel.

Fico com a impressão de que a queda da taxa de juros não interessava a nenhum desses públicos acima. Para mim foi bom: tive que entrar no cheque especial no mês passado, quando a taxa caiu de 7,74% para 3%! Àqueles a quem a medida fez bem não têm muito poder de mobilização e comunicação. São os pequenos empresários, e o chamado cidadão comum – não vão se manifestar por não terem os canais próprios, a não ser mediante a elevação ainda maior da taxa de aprovação do mandato da presidenta.

No entanto, essa unanimidade vai cair um pouco com a necessária queda na taxa de remuneração da poupança, que Dilma vai fazer. E tem coragem de fazer porque já demonstrou que se orienta muito mais pelo que é necessário fazer do que pelo que lhe dá aprovação e voto. Nada que abale de maneira violenta sua incrível popularidade.

Dilma tem a mão muito visível, e vem atuando com maestria no mercado. Deu um show de competência ao baixar sistematicamente as taxas da Selic sem provocar altas significativas na inflação – ou vocês acreditam que isso é obra só do Copom? Em seguida, forçou a baixa dos juros praticados pelos bancos no varejo mediante a baixa das taxas praticadas por Banco do Brasil e Caixa, duas empresas sólidas que têm muito lastro para compensar a perda de rentabilidade momentânea que essa diminuição forçada trouxe para elas.

Minha expectativa é que do arsenal de boas novidades de Dilma ainda possam sair medidas igualmente relevantes para a segurança, para a saúde e para a educação – nessa ordem, se não for possível fazer tudo ao mesmo tempo. O país precisa, urgentemente, de um choque de pacificação, e de melhoria no atendimento da saúde. Quanto à melhoria na educação, trata-se do único remédio possível para o efetivo desenvolvimento nacional.

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