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Estranho deus esse que é brasileiro

Tchô levanta a bola na área, Carlos Renato mata no braço e marca o gol do América contra o Atlético, aos cinco minutos do primeiro tempo. Na sequência, levanta os braços e os olhos aos céus para agradecer a deus. A cena me remeteu de volta à orção de Brunelli, aquele que agradeceu a deus pela propina recebida de Durval – um homem que, segundo Brunelli, era uma bênção para a cidade de Brasília.

Nesse mesmo dia, a pesquisa eleitoral das intenções de voto para o governo do DF revelam Arruda soberano primeiro lugar. No primeiro evento de campanha, filmado clandestinamente e colocado no Youtube, Arruda narrou sua desventura como uma conspiração das forças do mal, que o levaram à reclusão e à aproximação com deus. Dá para concluir que é um novo homem.

A conversão de Arruda não muda sua concepção de fazer política. O dinheiro que amealhou no passado abastecerá sua campanha atual. Afinal, se é para fazer o gol, vale dominar a bola com a mão.

Estranho, esse deus brasileiro, que parece ser o deus de Carlos Renato, Brunelli e Arruda. É um deus pragmático.

Dietrich Bonhoeffer consumiu boa parte de sua reflexão e de seus melhores anos com o dilema de participar de um atentado contra a vida de Hitler. Seus escritos revelam o quanto lutou consigo mesmo para se convencer de que, naquela situação extrema, esse passo era necessário. Afirmou que alguns fins devem sim, justificar os meios, seu valor não pode ser sempre desprezado em função do princípio.

Muito diferente disso é a banalidade de se incluir deus em todas as nossas mazelas, incoerências e contradições, como ocorre nos exemplos acima. E esse comportamento é tão largamente aceito que ficamos nos perguntando se os errados não somos nós, que achamos isso tudo um absurdo.

Em tempo: Thierry Henry classificou a França para a Copa do Mundo com um gol ilegal, também, utilizando a mão. Comemorou normalmente.

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