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Dilma, a revolucionária

Minha relação com Dilma se inicia com uma forte rejeição, passa para a admiração, e chega, hoje, ao apoio explícito.

Trata-se de uma série de sinais que, acumulados, parecem orientar seu governo rumo ao norte necessário (para todos os governos, não somente para o nosso). Primeiramente, sua disposição em tirar de sua equipe membros que se envolveram em corrupção explícita e comprovada. Não transigiu, conquanto para alguns parecesse que demorava a tomar a decisão necessária. Inteligentemente, todavia, Dilma sabe que caçar corruptos no nosso sistema político seria uma tarefa interminável, de maneira que preferiu manter o torniquete não muito apertado, sem, no entanto, deixar de agir quando um caso se torna público, ao mesmo tempo que mantém em funcionamento razoável seu sistema de controle interno.

A seguir, Dilma subiu consideravelmente o teto dos professores do ensino fundamental, dando mostras de que compreende com clareza que Fome Zero e Bolsa Família não libertam os oprimidos de suas opressões. Deu um passo seguro e decidido na única chave possível para a efetivação do exercício da cidadania pelos pobres.

Por último, Dilma baixou os juros na marra, contra a constante revolta dos defensores da pureza e santidade de um mercado que tem um lado muito definido. Foi a primeira chefe de governo brasileiro pós período militar que enfrentou com coragem o problema da infindável transferência de recursos dos mais pobres para os mais ricos pela via do pagamento de juros.

Definir Dilma como revolucionária em função dessas posturas reformistas, obviamente, não é algo que possa ser compreendido pela cartilha marxista. No entanto, se alguém no País adotou algum conjunto de medidas que, de fato, beneficiou “proletários” em detrimento da “elite”, sem dúvida esse alguém foi Dilma, a revolucionária.

O rompimento que petistas advogam para a autoria de Lula, na verdade, não ocorreu. Lula tentou o Fome Zero que não decolou, e acabou aperfeiçoando o modelo dos “vales” que ele tanto criticava para “criar” o Bolsa Família. Mesmo a autoria da ideia no âmbito petista não é sua, deve ser atribuída a Eduardo Suplicy, por justiça. Na economia, Lula deu sequência ao projeto liberal de Fernando Henrique.

Dilma segue na (necessária) linha assistencialista, aprofundando ainda mais suas políticas que vão trazendo cada vez mais brasileiros para o mercado de consumo, incluindo aí o acesso a melhorias de infraestrutura, a pleno vapor hoje.

As grandes novidades de Dilma, no entanto, estão em outras áreas. Primeiramente, na percepção de que, mesmo que eleitores mais educados venham no futuro a não mais se prestar como cabos eleitorais, a missão do Governo é libertar os pobres de sua pobreza e opressão. Ainda que a questão da educação exija medidas mais profundas, o início não poderia ser outro senão pela via da melhoria das condições salarias dos mestres.

A grande novidade, no entanto, é o embate que Dilma trava contra o capital. Não o produtivo, que efetivamente promove o cotidiano da nação, mas o especulativo, cuja função única é lucrar sem produzir. Ora, a necessária reparação para os pobres e para os que sofrem não ocorrerá simplesmente mediante o uso do aumento das receitas orçamentárias para os programas assistencialistas, mas mediante a busca de novos recursos que alimentam há anos o aumento da desigualdade, a concentração da renda, e o fosso entre pobres e ricos.

A agenda de Dilma é a revolução, se não pela revolução da qual desistiu na falência das guerrilhas, por reformas profundas que vem fazendo sem alardear que nunca antes nesse País algo assim foi feito. Lula foi um passo importante para o País, uma renovação de esperança, a afirmação de possibilidades antes impensáveis. No entanto, pouco rompeu com tudo o que sempre combateu. Dilma representa o resgate da esperança concreta de enfrentamento das chagas mais profundas de nosso País.

Beneficiada pelo mensalão, um avanço necessário pelo qual passou o País, tem campo livre para seguir em frente. Esperamos que renove as forças continuamente para aprofundar o resgate necessário daqueles que historicamente têm sido excluídos da possibilidade de viver com dignidade. Seria bom que seu partido percebesse, minimamente, que agora é a hora do resgate dos compromissos históricos da legenda que vinham se mostrando presentes muito mais nos documentos do que na ação concreta do partido a frente do governo. E não impusesse ao País uma agenda política confrontadora com inimigos que nem mesmo existem, como algumas supostas elites ou o decadente PSDB.

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