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Diogo Mainardi me coloca na direita?

Segundo a crítica de Veja a respeito do livro A Queda, de Mainardi, a coluna deste autor na revista durou de 1999 a 2010 – ou algo assim. Fui leitor assíduo e admirador de sua coluna. Gosto da lucidez de seus comentários, a despeito do fato de que as vezes se tornavam muito ferinos. Mas, Mainardi é ferino até a respeito de si mesmo.

Mainardi é odiado pelos petistas. Um amigo meu, petista, disse-me que só não o classificava como sub-humano, ou algo assim, porque seus textos sobre o filho que sofre de paralisia cerebral demonstravam que Mainardi tinha alguma sensibilidade. O ódio dos petistas por Mainardi usualmente segue a regra denunciada pelo próprio: desqualifica-se o inimigo para não se ter que comentar o que ele diz.

Mainardi fez com que eu constatasse, ali pelo meio da década passada, que sou de direita. Isso se tornou bem claro para mim durante o mensalão, que ele denunciou com objetividade, entre outros escândalos protagonizados pelo governo Lula. Outro amigo petista produziu um longo texto no qual analisava a atuação de Lula a frente do mensalão para concluir que havia sido uma jogada de mestre derrubar a direita utilizando-se dos métodos da direita. Esse argumento equivale ao rouba mais faz, com uma modificação: seria o “rouba mas faz melhor”.

Pensei que haveria uma enxurrada de defecções entre os petistas, mas não foi grande coisa. Venceu o pragmatismo, impôs-se a real politik, a política real. Eu fiquei na direita, mais ainda à medida que fui me envolvendo mais e mais na luta contra a corrupção, coisa de udenista.

Tenho alguns problemas, no entanto. Faltam-me algumas identidades fundamentais com a direita.

Primeiramente, se eu busco parlamentares a quem admiro, encontro apenas Thomaz Nonô, do PFL, que depois, se não me engano, migrou para o PSDB. Já na esquerda, o número é bem maior, e inclui Sérgio Miranda, Paulo Rubem Santiago, Paulo Delgado, Antônio Biscaia, Fernando Ferro, etc. Se penso em um chefe do Poder Executivo, meu modelo é Paulo Eccel.

Em segundo lugar, porque quanto á economia defendo a presença forte do Estado, e tenho muito prazer em ver Dilma intervindo de maneira inteligente na política monetária, sacrilégio para os defensores do mercado, que estão notadamente na direita.

Em terceiro lugar, porque admiro o Bolsa-Família e as ações afirmativas, como as cotas para universidades.

Assim, a despeito de minha admiração por Mainardi, desconfio que eu seja um direitista muito sem vergonha. Na verdade, não sei bem definir onde estou, e nem mesmo se essas definições históricas ainda fazem algum sentido – acho que não. Dilma, a quem tanto tenho elogicado, abriu um caminho de privatizações de dar inveja a FHC, ao mesmo tempo em que amplia a intervenção do Estado na economia.

Vamos ver onde isso tudo vai dar, onde a política partidária brasileira vai desembocar. Algumas boas novidades podem surgir logo.

Este post tem um comentário

  1. Ziller,

    eu também sempre fui leitora assídua do Mainardi. Sempre gostei da forma incisiva como ele aborda qualquer questão. Ele divide as pessoas e isso é muito bom, para um país que anda apático e adepto do “politicamente correto”.
    Gostei do seu texto mas permita-me discordar da política de cotas. Para mim o Governo tira de si a responsabilidade de prover uma educação de qualidade no ensino básico e fundamental para tentar compensar lá na frente. Além disto, utiliza-se de critérios discriminatórios para uma população naturalmente miscigenada. Acho que ainda vamos ter sérios problemas na formação dos futuros profissionais. No mais, não sei mais se sou de direita, esquerda, centro-direita, centro-esquerda, num país em que a política misturou tudo e quem era de direita mudou para partido de esquerda e vice-versa. E quem foi eleito pela esquerda aplicou políticas de direita e por aí afora. Hoje, tento balizar meu voto no trabalho do candidato, independente do partido. E mesmo assim, a tarefa não é fácil.

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