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A receita de Dilma

FHC foi pragmático ao se unir com o PFL, logrando sua eleição à Presidência. Uma vez empossado, aqueles que gostariam de ver uma composição política com o PT foram frustrados: FHC declarou que era bom que Lula permanecesse na oposição. Pragmático, mais uma vez, entendeu que como adversários sempre existem, o melhor seria ter nessa condição alguém que ele sempre venceria. Para vencer as eleições, Lula aliou-se ao PL, e, depois, para governar, ao PMDB. Pragmático como FHC, Lula respondeu  a altura, e, não só o admitiu como seu adversário predestinado como também não perdeu as oportunidades que teve para tripudar dele, uma adversário a quem sempre venceria.

A oposição politica de iguais (ou dos mais parecidos) tem sido uma grande tragédia para esse País. Claro que é mais fácil dizer isso hoje do que perceber lá atrás. Mas o fato é que essa usina de escândalos que é o Governo Federal brasileiro se origina das alianças espúrias das esquerdas, ou centro-esquerdas com a direita, para fins (altamente contestáveis) de governabilidade. Penso que, depois de pensar um pouco, qualquer um é capaz de entender que a união preferencial do PSDB teria sido com o PT e a união preferencial do PT teria sido com o PSDB.

Esse conflito permanece hoje na cabeça dos petistas, principalmente, e em menor escala entre os peessedebistas. E digo isso porque o PSDB está caminhando para a insignificância. Se a mídia denuncia ministros de Dilma, principalmente aqueles com maior vinculação a Lula, os petistas reagem perguntando porque não se denunciam os escândalos de Alckmin. E cabe ao PT e aos petistas, hoje, num gesto de grandeza, acabar com essa polarização inútil e por demais prejudicial ao País.

É clara a linha de continuidade entre a ação política dos dois partidos, à frente da Presidência. FHC iniciou tanto uma política social como econômica que foram levadas adiante por Lula. O mesmo Lula que condenava veementemente a política dos “vales” de FHC, uma vez no poder, unificou aqueles programas sociais em torno da ideia do Bolsa-Família, programa que teve grande relevância para o sucesso econômico do País, e que é uma receita econômica neoliberal, de assistencialismo financista. No plano da estruturação econômica, nenhuma novidade de fundo, mantendo-se a mão forte do Banco Central e a busca do atendimento a todas as expectativas dos agentes econômicos internacionais e nacionais. A quitação das dívidas com o FMI têm mero valor simbólico, também não representam nenhum rompimento agudo.

Há muitas outras diferenças pontuais entre os Governos Lula e FHC, principalemnte quanto à maior preocupação de Lula e seu governo com as questões sociais. Mas não há nada que caracterize visões de mundo opostas, como são, por exemplo, as que habitam a mente de personagens como Renan Calheiros e Antônio Carlos Magalhães (avô e neto) em relação a Lula e FHC. A argumentação sobre os avanços inegáveis do Governo Lula, portanto, não devem se confundir com um movimento de ruptura em relação à política de FHC, trata-se de uma evolução necessária e natural.

FHC ficou calado esse tempo todo porque é minimamente capaz de aceitar o fato de que não havia, a partir de sua própria obra e de sua visão de mundo, nada o que criticar em Lula. As rusgas que ocorreram diziam respeito a questões menores.

Mas, os petitas não pricisam admitir a existência dessa continuidade para solucionar o problema. Não precisam ser tão nobres assim – como Dilma tem sido. Bastaria apenas deixar de ver em FHC um inimigo a ser continuamente batido. Não é indispensável reconhecer o seu legado.

As ações de combate à corrupção e os beijinhos de Dilma em FHC fazem parte da percepção da política brasileira dos últimos 17 anos na perspectiva acima proposta. Creio que Dilma tem clareza de que a melhor composição política para o País seria a aliança entre PT e PSDB, algo impossível para dois partidos cuja aspiração sempre é a Presidência, fato que não acontece, por exemplo, com DEM e PMDB. Dilma é tão consciente disso que foi capaz de dar um merecido pito em Serra, acusando-o de tentar se afastar do legado de FHC durante a recente campanha à presidência.

E aqui está o ponto chave da questão: PT e PSDB têm hoje um legado a apresentar ao País, uma história de enfrentamentos e conquistas. Qual o legado que deixam DEM, PMDB, PP, PL (Ressalve-se que falo do PMDB de FHC para cá)? Unica e exclusivamente os escândalos dos últimos 17 anos. Absolutamente nada mais.

É possível juntar partidos como PT e PSDB e fazer um acordo com base em valores e programas. Ainda que muitos de seus membros, hoje, já tenham suas práticas políticas completamente comprometidas com o pragmatismo da política real. Mas, ainda não está excessivamente longe o tempo em que as preocupações sociais e éticas eram a referência maior desses homens e mulheres públicos – é possível reavivá-las. Há nas lembranças do passado, como há no discurso presente, o ideal da Justiça. Ainda há nesses partidos, também, os joelhos que não se dobraram diante de Baal.

Apesar de teoricamete ser possível juntar partidos como PT e PSDB, como dito acima, é impossível juntar PT e PSDB (os partidos reais), por causa de suas personagens políticas. Penso que Dilma seria suficientemente nobre para abrir mão da reeleição tendo em vista o País. Mas, penso que Aécio, Serra (ainda que não seja no momento um ator no centro do palco), Alckmin e Lula não seriam capazes de um gesto dessa envergadura para com o País.

Assim, o futuro continua um tanto negro. Dilma tem o limite do PMDB para conter a corrupção. Ela pode ir perdendo mais alguns apoios políticos e manter seu governo, mas não pode perder o PMDB. E esse menino é muito guloso. Talvez, Dilma tenha alguma receita contra a corrupção que possa funcionar, mesmo mantendo as alianças espúrias que tem – e que nossos governos federais fizeram nos quatro últimos mandatos. Sinal disso é o deslocamento de Aldo Rebello para o Ministério dos Esportes, com a tarefa de conter o sumidouro de dinheiro público que ali se iniciou com a gestão de Agnello. Ela mantém a aliança histórica com os comunistas e consegue moralizar a gestão do dinheiro publico.

Mas, o sonho de Dilma, penso eu, era dar um pé na bunda dessa turma de sanguessugas políticos e dar mais beijinhos em FHC.

Vale esclarecer, por último, que entre esses a quem chamo de sanguessugas existem também pessoas de caráter e politicamente íntegros. Conheço alguns. Mas, penso que em sua grande maioria, e por causa de sua visão de mundo, seja mais difícil extrair deles o compromisso com a ética na política, e com a Justiça.

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