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Teia de interesses

Nos idos de 99 a Câmara dos Deputados realizou a CPI do Narcotráfico. Visitou diversos estados, fazendo audiências públicas, levantando informações, apurando denúncias. Tive a oportunidade de participar de algumas dessas atividades, invlusive fazendo viagens com os parlamentares.

Em um determinado Estado, as investigações conduzidas chegaram a dois “elementos” que faziam parte da equipe política do cônjuge de um membro da CPI. Quem teve acesso à informação fingiu que não viu, e havia tanta coisa para investigar que essa saída pela tangente nem foi percebida.

A dificuldade maior para o enfrentamento do tráfico são essas conexões que se verificam em todos os níveis. Desde o interesse mais rasteiro de agentes do Estado que se beneficiam de forma fragmentada e em pequenos valores das atividades dos traficantes, até os relacionamentos nos âmbitos jurídico, econômico e político com empresas, entes do sistema financeiro e parlamentares e outros agentes políticos, entre eles o próprio aparelho repressivo do Estado de forma mais ampla.

O fato de a ação do Estado ter ocorrido como resposta à série de ataques dos narcotraficantes talvez fosse a única possibilidade real de que um enfrentamento dessas proporções ocorresse, dados os interesses acima mencionados.  Ou seja, não partiu de uma determinação do Estado em fazer tal confronto.

Mas, de uma maneira ou de outra, surgiu motivado por ações do Estado, visto que há uma relação clara com a perda de território e, consquentemente, de poder financeiro, por parte dos traficantes, por causa das ocupações dos morros pelas Unidades de Polícia Pacificadora. Talvez haja um estrategista por trás disso, que tenha previsto todos esses movimentos, talvez não. Qualquer que seja a situação, vale a pena estudar esse evento, pois há outras batalhas semelhantes a serem travadas no País.

Essa tentativa de um olhar levemente analítico sobre a situação não pode permitir que se esqueça da tragédia social e humana que estamos vivendo, da dor do que estão perdendo seus queridos. Isso me leva a ressuscitar uma ideia que tenho para a gestão pública, que pode ser comentada talvez no próximo post: A gestão por causa mortis.

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