Nasci evangélico. Esse fato tinha alguns signficados: a salvação da alma mediante a aceitação do sacrifício de Cristo para perdão dos pecados; um código de ética e moral (com aspectos negativos e positivos); a Bíblia como referência maior para as questões de fé, e para esse código de ética e de moral; entre outros de menor relevância.
Com o tempo, esses referenciais foram perdidos. A salvação para a eternidade foi substituída por uma proteção imediata de interesses e desejos pessoais do crente. O código de ética e de moral desapareceu, foi para o lixo. A Bíblia se tornou um manual de magia para manipulação da divindade a serviço do crente, que se tornou o Soberano do Universo. Levei as definições ao limite, mas não fogem muito disso.
Quem ficou com os conceitos antigos passou a ser visto a partir dessa ótica ressignificada, sobretudo pela pregação massificadora das igrejas ditas neopentecostais. Pessoalmente, conquanto também um pouco distante daqueles referenciais antigos, permaneci no âmbito de valores e conceitos históricos do protestantismo, ainda que alguns deles sejam marginais.
Politicamente passo pela mesma situação. A ressignificação de conceitos promovida ao longo dos últimos anos parece ter me colocado à direita. Particularmente por causa de minha miltância no combate à corrupção. Diversos interlocutores que apóiam nosso atual governo têm definido o combate à corrupção como coisa do pessoal da direita.
Eu fiquei onde tenho estado desde 2004, pelo menos. Mas, fui guinado à direita, pois combate à corrupção agora é coisa do DEM e da mídia reacionária, para alguns, e panfletagem udenista para outros. Além disso, descobri na eleição que o grande paradigma de cidadania para nossa presidenta eleita é a inclusão de todo brasileiro no mercado de consumo, ao tempo em que eu continuo acreditando em ideias superados como libertação e a emancipação do ser humano mediante a educação e o estudo. Mais uma guinada à direita?
Vem a minha mente o alerta de Isaías: ai dos que chamam a escuridade de luz e a luz de escuridade, dos que põem o amargo por doce e o doce por amargo. Deixei de ser evangélico e de ser de esquerda. Ou foram os evangélicos e os de esquerda que me deixaram?
Adriana Ramos
17 nov 2010Ziller, muito bom o texto.
Me sinto um pouco assim também, deslocada dos rótulos e conceitos que vão se adaptando à realidade politica, fazendo com que os ideais pareçam velhos e fora de uso.
Mas diante de tudo o que vejo por aí e o que leio diariamente nos jornais, ainda prefiro minhas desgastadas convicções ao oportunismo de plantão.
Abs,
Adriana